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Pesquisa realizada anualmente pelo Edelman TRUST BAROMETER para medir o nível de confiança da população em 28 países – incluindo o Brasil – mostrou que a confiança da população nas empresas, governos, ONGs e mídia está em queda.

Sem adentrar no que pode estar ocorrendo nos demais países, o fato é que o resultado em relação ao Brasil não surpreende. O descrédito nas instituições é latente, pois o acúmulo de escândalos envolvendo os setores mencionados tem feito com que o brasileiro olhe desconfiado para tudo e para todos.

Isso também não significa que, no caso específico da mídia, a confiança tenha migrado para as mídias sociais. É verdade que as novas tecnologias, as ferramentas modernas como Facebook, Instagram, WhatsApp, têm dado voz a milhões de pessoas que antes não tinham como expressar sua opinião a não ser para um público muito restrito.

Agora, basta ter uma conexão de internet e um smartphone para espalhar seus pensamentos para o mundo. Como tudo, este novo cenário tem seu lado positivo e negativo. É muito saudável para qualquer democracia – e vital onde ela não existe plenamente – que as pessoas possam ter acesso a informações e expressar suas opiniões. O lado negativo é tanto a imensa quantidade de bobagens, quanto mentiras e desinformações que vão parar na Internet sem qualquer crivo ou filtro.

É a velha questão do uso que se faz da ferramenta. Antes o ditado popular dizia que para conhecer uma pessoa bastava lhe dar poder. Hoje, é suficiente acessar o perfil no Facebook para saber quem ela é. Não bastasse isso, agora temos a pós-verdade, onde os fatos importam menos do que aquilo em que as pessoas escolhem acreditar. Não à toa, pós-verdade foi a palavra do ano de 2016, escolhida pelo dicionário “Oxford”. Vivemos um mundo onde a opinião substituiu a verdade.

Claro que todo indivíduo tem o direito a ter opinião. O grande problema está no uso da própria opinião como se ela fosse um fato concreto. Mas muito pior é a disseminação de mentiras. A perda de credibilidade da mídia tradicional, que muitas vezes distorce os fatos, incentiva o fortalecimento da pós-verdade.

Por outro lado, com a proliferação de notícias falsas, o crédito das mídias sociais também não está tão bem assim. Embora seja comum receber “fake news”, principalmente pelo WhatsApp, os desmentidos costumam ser rápidos.  Mas até que se corrija a informação, muitos problemas podem surgir. O gosto pelas notícias ou falsas notícias negativas faz com que o rastilho de pólvora queime rapidamente. Tão velozmente que já tivemos até o linchamento de uma mulher por conta de um boato espalhado pelo Facebook. Um dano irreversível que matou uma inocente.

Se a mídia tradicional não desperta a confiança nas notícias que produz, pois não se sabe – ou está claro – quais seus interesses, o que dizer do bombardeio de fake news, boatos e mentiras que borbulham nas mídias sociais? Então, em quem acreditar? Onde buscar informações verossímeis para formar a própria opinião? A pesquisa realizada parece indicar a resposta na medida em que apresenta três segmentos em alta no quesito credibilidade: mídia exclusivamente on-line, mecanismos de busca, e mídias próprias.

No caso das mídias exclusivamente on-line, a justificativa é que o leitor acredita que, por não ter ligações com grandes conglomerados, têm isenção nas notícias. Além de, normalmente, deixarem claro qual é sua linha editorial. Os mecanismos de busca – sendo o Google o mais conhecido – dão a falsa impressão de que ao pesquisar algo por meio deles, as opções que aparecem são as mais corretas. Se a maioria dos usuários entendessem como os links são ranqueados e qual a diferença entre links patrocinados e orgânicos, sua opinião seria diferente. As mídias próprias são autoexplicativas, pois são os exemplos de quem decidiu produzir conteúdo como se fossem notícias devidamente apuradas.

Para responder ao título do artigo, eu diria que é preciso de tudo um pouco: ainda buscar informações na grande mídia, nunca em um só canal, assim como descobrir mídias on-line que efetivamente publiquem notícias ou opiniões, mas de forma transparente, para assim formar a sua própria opinião. Estamos vivendo tempos onde a velocidade das mudanças e a profusão de informações podem deixar qualquer um com a sensação de estar sempre defasado sobre os fatos.

Showing 6 comments
  • Maria Elisa
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    Somos privilegiados por vivermos esse momento da tecnologia, mas também somos atingidos pelo o que de ruim isso possa significar. Um paradoxo ainda sem solução.

    • Nelson Rocha
      Responder

      É verdade, Maria Elisa. Temos que aproveitar dos benefícios da internet, mas ao mesmo tempo buscar mecanismos para ter informações fidedignas.

      Forte Abraço

  • Francisco de Assis M de Melo
    Responder

    Muito oportuno. Muito importante.

    • Nelson Rocha
      Responder

      Obrigado, Moura !!!

      Temos que ficar atentos para não nos iludirmos com as falsas informações que são colocadas na internet.

      Forte Abraço

  • Ricardo Lopes
    Responder

    Excelente artigo, Nelson Rocha. Não há garantia. As pessoas tem de deixar accreditar piamente nos fatos e nas opiniões e refletir sobre estes, acessando diferentes interpretações sobre os mesmos, para formular a sua. Dá trabalho, mas é gratificante. E coforme você vai fazendo iso, vai ficando mais afiado. Mas não o erro de acreditar em fake news não é exclusivo do senso comum, intelectuais e acadêmicos também comentem este erro, mesmo que de uma forma mais complexa. Basta ver como alguns intelectuais acretiam em fatos e afirmações apresentadas por grandes autores, apenas por formam apresentadas por grandes autories, muitas vezes sem refletir sobre os mesmos.

    • Nelson Rocha
      Responder

      Obrigado Ricardo !!!

      É verdade quando você diz que intelectuais e acadêmicos também cometem esse erro, todos estão sujeitos.

      Temos que formar as nossas opiniões a partir da pesquisa em diversos locais (internet e no cotidiano).

      Forte Abraço

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