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Os recentes casos da turista espanhola, que foi morta a tiros por policiais na Rocinha, e da menina Ana Clara, de apenas 12 anos, baleada provavelmente por um bandido quando voltava da igreja com os pais, nos fazem sofrer e lamentar a triste realidade de violência que vive o Rio de Janeiro.

Nem mesmo as Forças Armadas conseguem coibir os acontecimentos que vêm se sucedendo na maior favela do país. E o que dizer dos policiais que trocam tiros, matam, morrem e há muito deixaram de ter qualquer controle sobre a situação? Em meio a tudo isso, cidadãos comuns, moradores e turistas, são surpreendidos por tiroteios e acabam estampando as manchetes de jornais como as principais vítimas, fatais ou não, desses conflitos que ocorrem nos morros do Rio, não somente na Rocinha.

Na Rocinha tem-se maior visibilidade, mas em outras comunidades que não estão na zona sul do Rio, na Baixada Fluminense, no asfalto, a violência está muito mais intensa, assaltos e mortes como a do comandante do 3º batalhão da Polícia Militar no Méier.

A Polícia Militar, a Civil e o Exército parecem estar padecendo do mesmo mal que afetou as tropas americanas no Vietnã, quando a guerra foi perdida (ainda que isso jamais tenha sido admitido com clareza) pelo total desconhecimento do país, dos recantos que somente os vietnamitas conheciam. A Rocinha e outros morros da capital carioca dão a impressão de serem impenetráveis para quem não conhece seus rincões.

Isso vai corroendo a confiança da população nos poderes formalmente constituídos e provoca efeitos colaterais sérios na economia já combalida da região metropolitana do Rio de Janeiro. A morte da turista prejudica todo o trabalho de anos que vinha sendo feito para mostrar ao mundo que a Rocinha é uma imensa comunidade onde se podia “turistar”.

Não bastasse isso, o turismo é afetado em toda a cidade. Até porque, os problemas nas vias de acesso ao aeroporto internacional Tom Jobim são comuns e corriqueiramente aparecem nos jornais, fazendo com que muitos estrangeiros repensem sua vontade conhecer a cidade do Cristo Redentor. Os prejuízos econômicos vão se alastrando e os números comprovam isso.

E enquanto alguns moradores da cidade se apavoram e mudam hábitos, deixando de sair à noite e prejudicando a economia carioca, outros parecem conformados, achando que não há nada a fazer, que “é assim mesmo” e vivem suas vidas como se o que está acontecendo fosse normal, sem qualquer chance de mudança positiva.

A indignação deve fazer parte da nossa conduta e cobrarmos das autoridades uma solução definitiva – ainda que seja conquistada progressivamente -, pois não é mais possível viver sempre se preocupando e torcendo para que nada aconteça. Uma tensão constante que aflige ainda mais os pais cujos filhos já começam a ir para todo canto sozinhos – embora acompanhá-los não represente uma segurança real.

Se o país enfrenta uma grave crise econômica, o estado do Rio mais ainda, pela pilhagem feita por políticos corruptos, pela queda do preço do petróleo no mercado internacional e só por isso a capital carioca já sofreria seus reflexos. É certo que, em tempos de crise, a violência aumenta, mas chegou a níveis absurdos e precisa ser reduzida de alguma forma, para que a Cidade Maravilhosa possa ser assim chamada com convicção e veracidade novamente.

O carioca pede socorro, pois vive refém de um sistema que não consegue acabar com o poder paralelo de bandidos criminosos que subjugam as populações das comunidades do Rio e expõem as mazelas e incompetência dos poderes constituídos.

Showing 8 comments
  • Maria Alice dos Santos
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    Excelente ! Também estamos deixando de sair durante o dia, evitando itinerários, esquecendo do convívio social. Nossas casas que já eram gradeadas agora são vigiadas por câmeras, monitoradas eletronicamente 24 horas. Já não bastam os cães, temos alarmes mais barulhentos, apitaços entre vizinhos… Privacidade? Só dentro dos carros blindados e de vidros escuros. Muito escuros. Como nossa existência está se tornando.

    • Nelson Rocha
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      Obrigado, Maria Alice !!

      É verdade, a cada dia nos tornamos reféns de nós mesmos.

      Beijos

  • Nadia
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    Lamentável e assustadora a situação do Rio de Janeiro. O que mais me assusta é a nossa inércia, como se não fosse de nossa responsabilidade exigir de nossos governantes uma estratégia mais arrojada. De quatro em quatro anos temos a oportunidade de mudar o jogo, mas sempre deixamos a oportunidade escapar pelas mãos…

    • Nelson Rocha
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      É verdade, Nádia, se não nos indignarmos com a situação e exigirmos dos governantes atitudes, não mudaremos a situação.

      Beijos

  • Maria Elisa
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    Onde vamos parar??? Somos reféns dessa situação …

  • Antonio Carlos Pinto
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    Excelente artigo. O que há a se lamentar é que os problemas só tendem a se agravar. Culpa primordial do nossos poderes constituídos: judiciário, legislativo e executivo, nesta ordem. E não é só no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. A corrupção impera nestes poderes, com raríssimas exceções e leva o povo junto. Em que meio social a corrupção não está 99% impregnada. As esperanças de melhora chegam ao nível zero.

    • Nelson Rocha
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      Pois é, Pinto, a famosa estória do “primeiro eu” impregnada nas esferas de poder e não conseguimos coletivamente buscar alternativas.

      Quem sabe esse debate possa estar mais presente a fim de transformarmos o inconsciente coletivo.

      Forte Abraço

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