Jornal do CRC, Mídia, Resumo Gestão CRC, Resumo Gestão CRC - 2004

Mantendo o sucesso da edição anterior, a 52a Convenção dos Contabilistas do Estado do Rio de Janeiro vem se transformando num dos eventos de maior qualidade do CRC-RJ. Apresentando palestras de grande interesse do público, mescladas com passeio de trem, jantar, shows e sorteio de prêmios, o resultado não poderia ser diferente.

O segredo deste sucesso está na parceria entre o CRC-RJ e o Sindicato dos Contabilistas de Campos-RJ (Sincca), que, patrocinados pelo BNDES e Vale do Rio Doce, transformaram o SESC Mineiro de Grussaí (São João da Barra), durante os dias 26, 27 e 28 de agosto de 2004, num grande centro de idéias sob o tema “Contabilidade não é despesa, é investimento”.

A Sessão Solene de Abertura iniciou-se após a composição da mesa por Nelson Rocha, presidente do CRC-RJ; Enerildo dos Santos, presidente do Sincca; João de Oliveira e Silva, vice-presidente de Controle Interno do CFC; Guilherme Tostes, presidente do Sescon-RJ; Nelson Fernando Pfaltzgraff, presidente do IBRACON; Luiz Sergio da Rosa Lopes, presidente da Federação dos Contabilistas do RJ-ES-BA; Fauze Cherene, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campos – CDL-Campos; Antonio Miguel Fernandes, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional do CRC-RJ; Cezar Stagi, coordenador do evento e vice-presidente de Administração e Finanças do CRC-RJ; Marcelo de Souza Marinho, presidente e CEO da Brascan Brasil, e Maria Luiza Bulcão, representando o presidente do Tribunal de Contas do Estado, José Gomes Graciosa.

João de Oliveira e Silva, representando o presidente do CFC, José Martonio Alves Coelho, destacou a integração CFC/CRCs, além da simplificação tributária e do Exame de Suficiência, que chega à sua décima edição, como a maior forma de definir o futuro dos profissionais da classe contábil. Ressaltou ainda a importância do 17º Congresso Brasileiro de Contabilidade. “Este congresso será o maior evento contábil do Brasil. São esperados aproximadamente 4.500 contabilistas”, afirmou.

Fauze Cherene reiterou o apoio aos contabilistas. “Todos nós, lojistas e contabilistas, precisamos estar unidos para melhorarmos nosso Estado. Por isso, em eventos como esse não poderia faltar a participação da CDL”, disse.
Já Enerildo dos Santos agradeceu por ter Grussaí, mais uma vez, como cidade-sede da convenção. “É importante ressaltar esta integração do CRC-RJ com o interior, sobretudo o Sincca. Sinto-me grato por estarmos, novamente, sediando a convenção, fruto do sucesso da anterior. Quando se trabalha com carinho, amor, dedicação e fé, é certo que o resultado sempre será satisfatório”, destacou.
Dando prosseguimento à solenidade, o presidente do CRC-RJ, Nelson Rocha saudou a presença de todos, agradecendo aos patrocinadores e funcionários, além de destacar a importância do tema escolhido. “É um sonho poder fazer da convenção um momento de reflexão para sabermos o que vamos querer para o futuro de nossa profissão. O tema desta convenção surgiu a partir de uma reunião do conselho diretor e veio ganhando força até se transformar no ponto de partida para este evento”, enfatizou.

O presidente do CRC-RJ também se mostrou preocupado com a postura que o contabilista vem assumindo, além dos constantes problemas com a burocracia na Receita Federal. “Não podemos mais ser encarados como despesa. Temos que agregar valor aos negócios das empresas, à sociedade, que clama por um controle. É preciso que nós, contabilistas, tenhamos o comprometimento com as contas públicas. A gente sabe que o momento é difícil, mas precisamos estender o tapete vermelho aos nossos clientes contribuintes. Queremos aproximar o profissional de contabilidade com a sociedade e o empresário. Estamos cientes de que grande parte do tempo é dedicado ao preenchimento de guias, à burocracia imposta, e às filas da Receita Federal. O CRC-RJ emitiu uma nota de repúdio às multas aplicadas pelos atrasos de declarações. Fizemos uma manifestação política para enfatizar as dificuldades apresentadas aos contabilistas”, falou.

Para encerrar, Marcelo de Souza Marinho, que traz em seu currículo uma formação nas áreas química e de marketing, aproveitou para falar sobre a necessidade do contabilista para o grupo canadense Brascan, que atua no Brasil há 105 anos, através da Brascan Recursos Naturais (pecuária, mineração e atividades florestais), Brascan Energética (energia), Brascan Corretora de Seguros e Accor Brasil (serviços). “Os seis principais homens que tocam nosso grupo são contabilistas. Tratam a contabilidade de forma diferenciada. Hoje, o homem contábil ocupa a sala de negociações. Os grupos contábeis tornaram-se fundamentais. Através da contabilidade, compramos empresas com prejuízo, que nos trazem resultados imediatos. Um grande homem contábil percebe esta diferença. Entretanto, é necessário que os cursos de Ciências Contábeis mudem seus rumos, pois, se antes tínhamos na área de Contabilidade profissionais de Administração e Economia, hoje este cenário está mudando. O que ainda lamento é verificar que, no grupo de estagiários, quase não aparecem alunos de Ciências Contábeis. Isso precisa mudar. Preciso mais de um homem de Contabilidade do que beber água, pois não domino a contabilidade. O homem contábil, praticamente, está se fundindo muito com a área jurídica. Que me perdoem os advogados, mas prefiro um contabilista com noções de Direito que um advogado com noções contábeis”, destacou.

O segundo dia se iniciou com palestra sobre o tema principal do evento “Contabilidade não é despesa, é investimento”, apresentada pelo presidente do CRC-RJ, Nelson Rocha e ministrada pelo comentarista da Rede Globo News e colunista de O Globo, George Vidor. Vidor dividiu sua fala em três partes. Na primeira, em cima do tema proposto, o palestrante definiu historicamente a contabilidade como “mãe” da estatística e, esta, por sua vez, como “mãe” da ciência econômica. Afirmou que, desta forma, a contabilidade tem que ser colocada no lugar que ela merece, ou seja, ter a mesma importância da ciência econômica. Em seguida, Vidor fez uma abordagem sobre a questão da economia; dos problemas econômicos; das oportunidades e riscos, apresentando uma visão otimista. “Acho que o Brasil está na beira da pista para decolar, não vai ser um vôo de foguete, vai ser um vôo num daqueles primeiros da Embraer, que aliás está ajudando muito o país a se recuperar.” Vidor encerrou falando da economia do Estado do Rio de Janeiro destacando a importância do petróleo. “Perdemos o mercado financeiro, perdemos a capital do país, enfim, a gente tem que ter alguma coisa que nos segure efetivamente e, neste momento, o petróleo é a nossa “âncora””. Segundo ele, devemos usar o petróleo como “trampolim”, para desenvolver tecnologia, gerar empregos, explorar oportunidades, fazer a indústria naval crescer, o que se refletirá em todos os outros setores.

Na parte da tarde houve a apresentação de três painéis. O primeiro, “Área Pública – A Contabilidade como instrumento de combate à corrupção”, ministrado por Márcia Andrea Teixeira da Silva, auditora geral do município do Rio de Janeiro, que falou sobre a Controladoria Geral do Município, além de conceituar os diversos tipos de corrupção e sua origem.

A corrupção não se restringe apenas ao âmbito político, mas também dentro das empresas. Sendo assim, muitas dessas empresas passaram por avaliações, onde o código de ética também mereceu destaque. Como possível solução, Márcia apontou em suas pesquisas que a alternativa escolhida se refere a uma maior fiscalização e punição de administração aos corruptos.

Outro ponto destacado pela palestrante é a relação entre a corrupção e a burocracia. “O Brasil possui uma das legislações trabalhistas mais rígidas do mundo. A justiça também é uma das mais lentas do mundo. O Brasil é um dos piores lugares para fazer valer o direito dos credores. É difícil montar um negócio no Brasil. Demitir é muito caro. Fechar uma empresa demora uma eternidade. Até que ponto a burocracia também não pode ser um instrumento de corrupção? Até que ponto a ineficiência do Estado não é proposital?”, indagou.

      A debatedora Maria Luiza Bulcão, secretária geral de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, aproveitou para mostrar um pouco a posição do Estado, concordando com a análise feita por Márcia Andrea. O moderador deste painel foi o presidente do CRC-TO, Sebastião Célio Costa Castro.

O segundo painel foi sobre “Auditoria – Mercado de capitais: crescimento x credibilidade das auditorias”. Convidados para debater este tema, os palestrantes Julio Sérgio Cardozo, chairman e CEO da Ernst & Young Auditores Independentes, e Hugo Rocha Braga, atual representante do CRC-RJ no CFC, tiveram a ética e a velocidade das informações como pontos importantes de suas palestras, onde ainda foram analisadas a atuação do auditor independente, suas responsabilidades, e as mudanças que requerem novas estratégias.

Julio Sérgio Cardozo também destacou a importância do ensino fundamental na formação do futuro profissional. “O Brasil precisa de gente qualificada no 2º grau. O ensino universitário não é a última fronteira. O ensino médio precisa ser mais reforçado. Não há necessidades de sistemas de cotas nas faculdades, mas sim um ensino fundamental forte para que todos consigam adquirir base para competir no futuro”, afirmou.

Hugo Rocha Braga adotou as palavras de Júlio Cardozo, alertando para a mudança na política de ensino do país. “Precisamos sair da hipocrisia praticada no Brasil. Está se fazendo uma demagogia de cotas. As empresas estão formando mão-de-obra porque as escolas não o fazem. O nível superior é para elite intelectual”, completou.

Tendo como moderador o vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional do CRC-RJ, Antonio Miguel Fernandes, os palestrantes apenas discordaram quanto à posição do conselho fiscal. Segundo Rocha Braga, o conselho fiscal tem um comitê de auditoria que deve estar fora da empresa, não podendo ser confundido com a execução. O conselho precisa fiscalizar os atos da administração, se estão de acordo com as leis.

Fechando a seqüência de painéis, César João Abicalaffe falou sobre “Escritórios: O desafio do profissional da contabilidade para se tornar empreendedor”. A apresentação teve como debatedor o contador e professor José Roberto da Rocha Mansur e José Raulino Castelo Branco Filho, presidente do CRC/PI como moderador.

O palestrante definiu três pré-requisitos para que o profissional vença o desafio de se transformar em um empreendedor: motivação, organização pessoal e vocação. “Garra e espírito de luta definem o sucesso na profissão.” Segundo Abicalaffe, a maioria das empresas vê o profissional de contabilidade como despesa e é preciso mostrar para elas que os contabilistas são consultores e empreendedores. O palestrante destacou como fundamental que a classe descubra a importância que tem. Segundo ele, por causa da questão complicada dos impostos, a classe foi “obrigada” a cuidar mais da parte fiscal, esquecendo-se do lado mais bonito e nobre da ciência.”A contabilidade é a ciência da riqueza e da prosperidade”. Através de dados de pesquisas realizadas no país, Abicalaffe mostrou que 500 mil empresas morrem por ano, desempregando cerca de 1 milhão e 500 mil pessoas, mas que, não adianta querer acabar com o desemprego criando empresas, pois, 97% delas morrem em pouco tempo.

Antes de dar início à segunda palestra do dia, foi apresentado por Luis Alexandre Barbosa e Célia Regina, o convênio firmado entre o CRC-RJ e o Instituto de Organização Racional do Trabalho do Rio de Janeiro (IDORT-RJ), que surge para facilitar ainda mais a vida do contabilista.

O IDORT-RJ, que atua como agente de apoio a programas de modernização administrativa e tecnológica, se juntou à Certisgn, empresa que lidera a tecnologia da certificação digital no Brasil. Como o IDORT-RJ foi recentemente credenciado como Autoridade de Registro da ICP-Brasil, isso o habilita, não só a promover, mas a ter participação efetiva no processo de certificação digital dos registrados no CRC-RJ. O investimento nesta tecnologia permite ao contabilista melhor atender seus clientes. Uma ferramenta de trabalho inovadora.

A certificação é um conjunto de técnicas e processos que propiciam mais segurança às comunicações e transações eletrônicas, permitindo também a guarda segura de documentos. A maioria dos sistemas de correio eletrônico e navegadores está preparada para orientar os usuários, de forma didática, a realizar as principais operações com Certificação Digital.

A Certificação Digital pode ser utilizada para várias finalidades, como garantia de sigilo e privacidade, controle de acesso a aplicativos (não seria mais necessário digitar usuário e senha); assinatura de formulários e mensagens com impossibilidade de repúdio; identificação do remetente.

No encerramento do ciclo de palestras do dia, o clima esquentou quando os contabilistas estiveram frente a frente com representantes da Receita Federal, cujo apresentador era Mauro Manuel Nóbrega, conselheiro do CFC.
Representando a Secretaria da Receita Federal (SRF) estavam os palestrantes Silvio de Oliveira Costa Junior, delegado da Receita Federal de Campos, e Patrícia Coelho Afonso, da SRF do Centro do Rio de Janeiro, enquanto o vice-presidente de Registro do CRC-RJ, Carlos de La Rocque seria o debatedor.

Para falar do tema “A relação fisco-contabilista-contribuinte“, os palestrantes dividiram seus tempos para mostrar as missões, os valores (legalidade, profissionalismo, imparcialidade, respeito ao cidadão, etc) e a visão do futuro (reconhecimento pela sociedade como uma organização justa na aplicação da legislação tributária) da SRF. Aproveitaram também para traçar a estrutura organizacional da Receita, bem como sua eficiência e eficácia na aplicação da legislação.

As DCTFs, base do sistema de cobrança, foram bastante analisadas, desde seu conceito e relação com as micro, pequenas, médias e grandes empresas, até a sua forma de preenchimento, que ainda causa uma certa turbulência, a partir de erros ocorridos, principalmente, nas pastas débitos/créditos. Segundo Patrícia Coelho, deve-se prestar atenção na informação do pagamento em quotas, no período de apuração, na vinculação de pagamento, de compensação de pagamento indevido ou a mais, de outras compensações, de suspensão, e de parcelamentos. “Quem tem hoje problema de débito é verificar por cada dígito o número informado. Confira os zeros tanto à esquerda, quanto à direta. A preocupação da administração tributária é evitar a qualquer custo a evasão tributária. Para maiores esclarecimentos, nossas delegacias têm feito palestras na própria sede todas as terças e quintas, a partir das 9h”, destacou.

Terminada a apresentação, Carlos de La Rocque iniciou seu debate ressaltando a humildade que tanto os contabilistas, quanto a Receita devem ter em reconhecer suas limitações, pois são capazes de errar.

A constante discussão sobre a burocracia e filas para obtenção de senhas não poderiam deixar de ser faladas. La Rocque foi enfático demonstrando toda insatisfação da categoria quanto à relação entre os contabilistas e a Receita; o respeito (compra de senhas); a confiança; a eficiência; o atendimento (diferenciado para os contabilistas); protocolo; redução do valor das multas; comunicação dos processos em casos de deferimento; e integração com a procuradoria. La Rocque foi aplaudido por todos, gerando uma resposta imediata de Silvio Costa Junior, que admitiu que a Receita Federal também erra.”Os contabilistas precisam se reunir e se fazer ouvidos. Levem suas insatisfações à superintendência”, afirmou.

No terceiro e último dia do evento, os convencionais ouviram, pela manhã, o diretor executivo do Instituto Xerox, José Pinto Monteiro falar sobre “Responsabilidade social”. A palestra foi apresentada pelo vice-presidente do CRC-RJ Antônio Miguel Fernandes.

José Monteiro, através de uma pequena retrospectiva histórica, afirmou que, diferente do que se esperava, a revolução tecnológica não trouxe apenas a alegria da facilidade do homem exercer melhor a sua criatividade, mas também uma grande concentração de renda, ou seja, desigualdade social. Segundo ele, dados sociais sobre a realidade do país mostram que é preciso olhar para a maior problemática atual que é a desesperança da juventude brasileira. O palestrante se disse muito satisfeito pela oportunidade de estar falando do tema Responsabilidade Social para a classe contabilista. “O contador tem essa visão da promoção social e tem o conhecimento do perfil das empresas, é formador de opinião e sobretudo é um promotor social, pois ele sabe exatamente quais empresas e quais pessoas poderiam estar fazendo as ações”. De acordo com José Monteiro, a responsabilidade social corporativa é hoje o elo mais importante para juntar o governo e a sociedade nessa missão que é não de mitigar mas de resolver a questão da desigualdade no Brasil. “A empresa tem um papel fundamental nisso, de estar instruindo o governo, a sociedade, no sentido de, juntos, os três atores poderem solucionar isso rápido, pois essa questão é intolerável por mais dois ou três anos”.

Nos painéis, Jorge Ribeiro dos Passos Rosa, conselheiro do CRC-RJ, falou sobre “Área Pública: A Contabilidade e o Exercício da Cidadania”, com a doutora em contabilidade Aracéli Cristina de Souza Ferreira como debatedora e Carlos Henrique Menezes Lima, presidente do CRC-SE como moderador.
O palestrante pontuou sua opinião sobre a necessidade dos profissionais da área de Contabilidade se interessarem mais pelas mudanças sociais, políticas e principalmente fiscais que estão acontecendo no país, via código civil; via reformas; via os aspectos das informações sociais e ambientais. Segundo ele, isso, associado a uma nova condição de postura reproduzirá para o próprio contabilista a melhoria na condição de ética e de conduta moral. Jorge afirmou que é preciso pensar, questionar. Como por exemplo, de que forma o profissional pode contribuir para que tenhamos uma sociedade melhor. “Temos que nos alertar para isso”. Ressaltou a importância de participar de eventos, fóruns, congressos, convenções, mas também a busca pelos CRCs, a busca da consulta no terminal do Conselho, de informações e a prática efetiva das condições definidas em lei. Seja a Lei de Responsabilidade Fiscal, sejam as próprias resoluções do Conselho; respeitar a própria constituição do país. “O profissional precisa exigir do empresário uma postura melhor para que ele seja respeitado; para que ele possa fazer um melhor atendimento, uma melhor assessoria. Tem que existir um processo em mão dupla, não pode ficar tudo só na mão do contador. Será sim, assunto do contador desde que o empresário dê condições a ele para que possa se fazer um trabalho adequado”.

Aracéli norteou-se pela importância de se pensar na questão do dever e da ética. “A nossa informação impacta a sociedade. Quando se informa errado, e não precisa ser uma fraude deliberada, mas quando erramos podemos derrubar uma empresa. Assim como um erro médico pode matar uma pessoa ou deixá-la debilitada, um erro contábil também pode ser muito grave”. Segundo a debatedora, o compromisso do profissional com a cidadania é informar corretamente e ter a consciência de que essa informação não é só para o dono da empresa, mas é também para a sociedade, que precisa saber como as empresas estão trabalhando, como estão usando dessa permissão social de funcionar. “Eu acho que quando a gente conseguir fazer isso, a sociedade vai reconhecer melhor o contador”. Aracéli comentou sobre a questão ambiental da água. “Precisamos ter informações específicas sobre o uso que as empresas estão fazendo da água. Empresas por exemplo como a Coca-cola, Ambev, Schin e engarrafadoras de água, usam de um recurso natural que pode ser extinto, não pagam por isso, só ganham. Esse lucro é distribuído entre o grupo de acionistas. Quem é acionista da Coca-Cola? Eu não conheço nenhum. No entanto, essa empresa usa um recurso que também é meu e eu não me beneficio disso”.

O segundo painel, sobre “Auditoria: Educação Profissional Continuada”, foi ministrado por José Antônio de Godoy, ex-presidente do CRC-SP. Como moderador, a mesa teve João Bosco Lopes, conselheiro do CRC-RJ, e, como debatedor, Nicolau Schwez, que é especializado em Metodologia do Ensino Superior, Contabilidade Geral, Administração Financeira com ênfase em Contabilidade. Antônio Miguel Fernandes foi convidado a participar da mesa.
Para José Antônio de Godoy, o mais importante é que os profissionais e aqueles que estão vindo para a profissão se conscientizem de que há a necessidade da continuidade do aprendizado e agregação de conhecimentos. “Só dessa forma faremos com que a profissão atinja a excelência na execução de seu trabalho e tenha um reconhecimento maior e melhor da comunidade e dos usuários dos nossos serviços”. Segundo Godoy, a Educação Continuada é necessária desde que seja levada sob o conceito de agregar novos valores; de melhorar os conceitos que já se tem. E afirmou que ela não pode ser entendida como elemento de corrigir falhas de formação do profissional. Se entendida dessa forma, ela é a melhor maneira de fazer com que o profissional cresça e tenha excelência na profissão. “Eu sempre entendo que eventos desse tipo, como a Convenção, são o começo para que se crie a consciência da necessidade e da importância da Educação Continuada. Tivemos aqui mil profissionais que saíram de regiões distantes e que não vieram aqui para passear, mas sim, trazidos já por essa consciência”.
Nicolau Schwez também destacou a importância dos profissionais se conscientizarem quanto à constante busca pela megacompetência. E, afirmou que, para se conseguir isso é preciso se ter a Educação Continuada permanente, ou seja, vitalícia. O debatedor lembrou que hoje não basta mais ser um bom ou ótimo profissional, esse mundo globalizado quer o excelente. Segundo ele é importante levar em consideração não apenas aspectos técnicos, mas também os gerais, adquirir outros conhecimentos, para que se consiga atingir esse ápice. “Acho que a Educação Continuada não precisaria ser ”obrigatória” , deveria ser natural. Aí, para se conseguir ganhar aquela qualidade, o “ISO” como profissional, prestaria-se o exame de competência para cada um em sua respectiva área de atuação. Por exemplo, se eu for da área de custos, presto exame na área de custos. Se eu quiser buscar na área industrial, de balanços ou financeira, eu também posso prestar exames de competência nessas áreas e ir agregando isso pra mim.” Nicolau afirmou que assim o mercado de trabalho vai buscar quem tiver mais qualificação, mais conhecimento.

No último painel, “Escritórios – Planejamento Tributário na Gestão das Empresas”, o palestrante, o advogado Severino Silva, destacou a diferença entre elisão (utilização de meios lícitos) e evasão fiscal, além de definir a licitude de um planejamento tributário, bem como simulação, fraudes e abusos. “O tema se coloca numa visão bastante ampla. Sabemos que nossa carga tributária é alta. Nossa legislação fiscal é complexa. Não temos um sistema tributário, mas um amontoado de leis que formam um caos tributário. Uma das missões do contabilista é cuidar da legislação tributária das empresas. Ele deve estar nas corporações, ficando presente no planejamento fiscal. Comparação e cisão são muito utilizados em planejamento tributário”, afirmou.

O debatedor e conselheiro do CRC-RJ, Gil Marques Mendes, concordou com o conceito apresentado. “Nossa legislação é muito emocionante. O planejamento inteligente se inicia antes do mandato. O empresário, na ânsia de participar da concorrência, aumenta o capital, mas isso pode trazer problemas. Tenho acompanhado muitos exemplos de atitudes precipitadas na Junta Comercial”, acrescentou.

Gil Marques também aproveitou para salientar a importância desta nova área de atuação. “A contabilidade só existe quando está atrelada à área fiscal. Esta área é emocionante. Para ganhar dinheiro, você deve estudar. Estamos entrando em áreas que antes eram proibidas. São novas portas que se abrem. Mas para conquistarmos este espaço, devemos ter sabedoria, estudando, nos informando para obtermos o sucesso”, alertou.

A moderadora e presidente da Unipec, Nelma Bello Goulart de Albuquerque, também ressaltou a importância de um eficiente planejamento tributário. “Dar prejuízo não significa planejamento tributário. Nossa função não é dar prejuízo, é dar lucro ao nosso cliente. O contabilista é quase o esqueleto da empresa dentro da área tributária. Temos que levar ao nosso cliente o seu melhor custo fiscal. O melhor momento de se iniciar o planejamento tributário é na constituição da empresa ou mesmo até antes de sua constituição”, destacou.

Mais uma vez escolhidos para encerrar o evento, com a palestra “Ações de Marketing das Empresas Contábeis no Estado do Rio de Janeiro”, os expositores Frederico de Azevedo Carvalho, professor da UERJ e Antonio de Souza Sobrinho, professor da UGF, trouxeram os resultados da pesquisa anunciada na convenção anterior, onde foi feito um levantamento amplo sobre a percepção, as expectativas e as atitudes dos contabilistas do Rio de Janeiro com o marketing e seus serviços.
Antonio Sobrinho mostrou os benefícios do marketing para o contabilista, além das dificuldades para vender serviços contábeis, traçando o perfil de todos aqueles que responderam o questionário elaborado entre os meses de outubro e dezembro de 2002.

Já Frederico Carvalho enfatizou o papel do marketing. Segundo Frederico, os contabilistas acham que precisam investir muito dinheiro para ações de marketing, mas nem sempre isso acontece. Convidado para ser o debatedor, Francisco Guarisa fez uma análise de cenário, concluindo que o trabalho tem como palavra-chave: mudança de gestão. “A gestão do relacionamento com o cliente é importante. A questão da marca/ imagem é essencial. Como vou querer ser reconhecido pelo meu cliente? Através da marca. A questão da pró-atividade também é importante”, destacou.

O evento foi coroado com a entrega aos autores dos trabalhos premiados. O vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional do CRC-RJ, Antonio Miguel Fernandes, dirigiu a de apresentação dos trabalhos, mostrando-se muito satisfeito com a melhoria significante quanto à qualidade dos artigos. Em 3º lugar, ficou Patrícia Vasconcelos Boavista da Cunha, com “Contabilidade, Ética e Espaço Público”; em 2º, Mario Cesar Cordeiro Pereira, com “Empresas de Serviços Contábeis – condicionantes estratégicas para uma atuação empreendedora”. O 1º lugar foi para Maria Elisabeth Pereira Kraemer, que apresentou para os convencionais o trabalho: “Contabilidade Criativa maquiando as Demonstrações Contábeis”.

No encerramento, a mesa foi composta pelo presidente do CRC-RJ, Nelson Rocha; Antônio Miguel Fernandes, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional do CRC-RJ; Cezar Stagi, coordenador do evento e vice-presidente de Administração e Finanças do CRC-RJ; Adriano Luiz Medina, vice-presidente de Interior do CRC-RJ; Enerildo dos Santos, presidente do Sindicato de Campos; José Ornis Rosa, representante da Delegacia do CRC em Campos; Diva Maria de Oliveira Gesualdi, presidente da Academia de Ciências Contábeis do Estado do Rio de Janeiro; Nelma Bello Goulart de Albuquerque, presidente da UNIPEC; Fulvio Abrame Stagi, presidente do Sescon Sul-fluminense e Carlos Henrique Lima, presidente do CRC-SE.

Nelson Rocha elogiou a forma interessada e participativa como todos aderiram ao evento. Fez um agradecimento especial a cada um que ali expôs suas idéias, interagindo e contribuindo com sua experiência para que o evento cumprisse seu propósito. Nelson fez um resumo de tudo que foi falado durante as palestras, ressaltando pontos importantes como a necessidade do profissional em se valorizar, melhorar sua auto-estima; sobre os benefícios da Educação Continuada e, principalmente, colocou como essencial a união da categoria, como poder de força para as suas conquistas e uma melhor imagem perante a sociedade.
Ao final, após a seqüência de sorteios de brindes, todos tiveram a oportunidade de aderir ao jantar dançante, marcando o encerramento da 52ª Convenção, que preencheu mais uma página da história da classe contábil.

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