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O recente aumento da alíquota do PIS/Cofins sobre o valor dos combustíveis traz à tona a velha questão sobre quem paga a conta da irresponsabilidade administrativa dos governos. Um olhar superficial e equivocado pode dar a ideia de que isso não afetará a população mais pobre, já que não consome gasolina porque, normalmente, não tem carro.

Na realidade, a conta é de todos nós, pois o custo do combustível é repassado para os consumidores, direta ou indiretamente. No primeiro caso, na bomba de gasolina. No segundo, em todos os produtos que dependem da malha rodoviária para serem transportados, o que sempre representa um alto custo.

Ou seja, no final das contas, quem paga a conta somos todos nós, contribuintes, e quem sofre mais para pagar são os menos favorecidos, pois a incidência do aumento do PIS/Cofins se reflete em praticamente tudo o que se consome.

Tivemos a reforma trabalhista aprovada recentemente, cujo argumento principal era aliviar os encargos das empresas e incentivar a contratação de mais funcionários. Em seguida, somos “presenteados” pelo aumento de impostos sobre os combustíveis, refletindo nas empresas e na sociedade como um todo.

O governo federal, mais uma vez, como sempre, fez o ajuste fiscal pelo lado da receita, aumentando tributos por “não conseguir” reduzir mais os gastos com a justificativa de que são despesas de natureza continuada, como salário, que não podem ser mexidos. Por outro lado, a administração federal mantém uma política monetária que alimenta e aprofunda a crise econômica já vivida. Uma outra medida de contenção de despesas que o governo nem sequer cogita, mas que poderia ser de extrema valia, é frear o desperdício, estimado em 30% no Brasil.

Um governo fragilizado como o atual acaba se rendendo aos apelos de parlamentares da sua base, hoje já fragmentada, com o intuito de manter o apoio para barrar a investigação do presidente da República pedida pelo Ministério Público, e, ao mesmo tempo, para conseguir avançar na pauta das reformas. Mas como o Congresso Nacional é um verdadeiro tabuleiro de negociações, nem mesmo o atendimento das demandas de deputados e senadores impediu que a proposta do governo para o novo Refis (criado para regularizar débitos relativos a tributos e contribuições das empresas e cidadãos junto à União) fosse alterada. Por conta dessa modificação no Congresso, o que se esperava arrecadar ficaria distante das previsões iniciais. Então, o plano “B” do governo foi aumentar a alíquota do PIS/Cofins sobre os combustíveis por ser mais fácil, sendo feito diretamente, sem interferência do Legislativo, e com início de cobrança imediata.

Não é a primeira vez – e não parece ser a última – que pagaremos a conta dos mandos e desmandos, maus feitos e incompetências das administrações públicas. Como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, a injustiça social prevalece, os menos favorecidos vão sofrendo em tudo, até – infelizmente – com a própria sobrevivência.

Showing 12 comments
  • Antonio Carlos Pinto
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    Pois é. Num país corrupto por sua própria natureza, com um sistema de governo totalmente deteriorado e um povo submisso, não se pode esperar nada diferente. O governo gasta como quer e o povo paga a conta, sempre.

    • Nelson Rocha
      Responder

      Pura verdade, Pinto.

      Obrigado pela participação.

      Forte Abraço

  • RENATA R S JORGE
    Responder

    Nelson, é triste o que estão fazendo com o povo Brasileiro, com nossa Nação. Um povo rico em terras, em água, em tantas outras coisas e vivermos da forma que estamos vivendo é inadmissível. Eu não sei se estou correta, mas tenho tentado nem ver jornal, nada…São tantas coisas ruins acontecendo ao mesmo tempo! Vivemos em uma guerra e não saberemos como será o fim dela. Só nos resta como Brasileiros que somos, não desistirmos nunca! Será que ainda tem jeito?

    • Nelson Rocha
      Responder

      Para dar jeito, é preciso a participação da sociedade na hora da escolha dos governantes. A democracia brasileira ainda é debutante, mas aos poucos vamos aprendendo e as próximas gerações serão beneficiadas.

  • Wellington
    Responder

    A nossa incompetência histórica nos corroi e impede que sejamos um pais decente. As elites teimam em manter uma política suicida de opressão sobre a população mais pobre. A solução não passa por ações de curto prazo. Para iniciar, convocação de uma assembléia constituinte para formular uma ampla reforma política.

    • Nelson Rocha
      Responder

      Wellington,

      Gostei do comentário. Primeiro a reforma para que possamos passar adiante e ir para as outras reformas.

      Forte Abraço

  • Luís Fernando
    Responder

    Concordo plenamente com seu comentário. É fácil, porém até quando aguentamos? Recordo-me com estes seguidos aumentos do conceito da “Curva de Laffer”.
    Necessitamos renovar nossos representantes e eleger homens de bem, e competentes, os quais se afastaram da política.

    • Nelson Rocha
      Responder

      É verdade Luis, a curva de Lafer explica bem a incompetência. Se entendessem que aumentando carga tributária diminui a base de contribuintes, seja pela sonegação, ou pela diminuição da atividade produtiva, não adotariam essas medidas.
      Mais uma vez obrigado pela contribuição!
      Forte Abraço

  • PSM
    Responder

    Mas o Brasil é ipsis do futuro. Só não se sabe o q significa futuro!!!!

    • Nelson Rocha
      Responder

      O futuro chegou e não aproveitamos ele. Infelizmente, mas apesar disso, é importante prepararmos o país para as próximas gerações
      Forte Abraço

  • Ciro Neves
    Responder

    Muito bom o texto! O país continua criando remendos para a economia e mascarando o real problema que mora nas políticas monetárias, financeiras, socioeconômicas, etc. Mas o que esperar de um governo ilegítimo, sem compromisso nenhum com o povo? Somente isso, a segurança daqueles que realmente regem o país, os seus financiadores e seus interesses no rentismo…

    • Nelson Rocha
      Responder

      Valeu, Ciro, pelo comentário!

      A política monetária continua a mesma, ajuste fiscal só é feito pelo lado da receita, enquanto isso, a renda continua sendo concentrada no capital, nas instituições financeiras com taxas exorbitantes, incompatíveis com o cenário econômico brasileiro. Quem ganha com isso….

      Forte Abraço

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