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Mesmo um escritor de best-sellers como Sidney Sheldon teria dificuldade em arquitetar um enredo como o que estamos vendo no país. Até a série “House of Cards” já postou no Twitter: “É difícil competir”.

Enquanto os fatos do dia a dia vão nos atropelando, a história do país se desenrola (ou se enrola) como uma tramoia inimaginável, como uma verdadeira obra de ficção, sem que desconfiemos o final provável.

Tivemos anos de bonança no início dos anos 2000. Mesmo com a crise do Mensalão, o país conseguiu se recuperar e viveu momentos de euforia, conseguiu o grau de investimento, o que facilitou a entrada de capital estrangeiro. Tudo levava a crer que o país tinha decolado como sugeriu a capa da Financial Time em 2009. O Brasil, enfim, estava pronto para decolar.

A crise financeira mundial aliada à falta de habilidade política da presidente eleita em 2010 trouxeram mudanças nos ventos de prosperidade com dificuldades na economia e fizeram com que a crise política alimentasse a crise econômica – e vice-versa – até a interrupção do mandato com o afastamento dela por impeachment (o mais implacável golpe numa democracia).

O vice assume em meio ao questionamento sobre a articulação que fez em parceria com o então presidente da Câmara dos Deputados para a saída da presidente. Com o apoio do empresariado e da grande mídia, ele faz planos, propõe reformas e ajustes na economia, em particular na questão fiscal.

Ainda no primeiro ano de governo, tem os seus principais assessores (a cozinha do planalto) envolvidos em escândalos de corrupção. No entanto, a economia, apesar de ter apenas uma proposta fiscal, começa a dar sinais de recuperação, até que um “Joesley escândalo Batista” cai como um raio sobre a cabeça do próprio presidente. A delação da JBS é eivada de provas, gravações, difíceis de explicar.

O governo resiste, o presidente tenta rebater e os dias passam até que o procurador geral da República apresenta a denúncia contra ele. Diante das evidências, seus aliados já não são tão aliados, ou já começam a procurar alternativas para trilhar um outro caminho, afinal, o instinto de sobrevivência de cada político supera qualquer acordo firmado para apoiar um governo em queda livre. Mas o que reclamar, já que a mesma prática foi utilizada para o impeachment da então presidente da República.

Agora, o deputado Rodrigo Maia, aliado-sucessor de primeira hora de Temer, tenta não se contaminar com o presidente e o sogro (Ministro Moreira Franco) também denunciado, fala institucionalmente em nome da Câmara dos Deputados, deixando clara a independência entre os Poderes e já é exaltado por alguns como o próximo presidente.

Não bastasse tanta mudança em tão pouco tempo, circulam informações de que o “próximo presidente” que ainda não tomou posse – Rodrigo Maia – também será implicado na delação de Eduardo Cunha na mesma esteira do atual presidente – Temer.

Que enredo é esse? E quantos presidentes teremos até a próxima eleição? Nem Sidney Sheldon saberia dizer.

 

Caetano Veloso – canção Podres Poderes
‘Será que apenas os hermetismos pascoais,
E os tons, os mil tons,
Seus sons e seus dons geniais,
Nos salvam, nos salvarão,
Dessas trevas e nada mais’

Showing 12 comments
  • Pedro Amorim
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    Ótimo Texto!

  • Maria Elisa Macieira
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    Excelente, pela cronologia, clareza e linguagem inteligente! Parabéns!

    • Nelson Rocha
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      Os fatos falam por si, que momento difícil para o nosso país..

      Obrigado Maria Elisa

  • SIDDHARTA PEREIRA PINTO
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    Excelente análise! Pode ampliar mais, em relação ao judiciário e a perseguição que o mesmo vem fazendo ao Presidente Lula; justiça parcial e sem provas.

    • Nelson Rocha
      Responder

      Obrigado Siddharta !!!

      Todos os Poderes, infelizmente contaminados.

  • Marcos Carneiro
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    Muito boa a sua reflexão Nelson.Eu só discordo das provas robustas daJBS.É o maior bandido da história e disse um monte de coisas de todo mundo sem uma única prova documental +essa gravação foi uma armação arquitetada por alguém interessado e que,em troca,concedeu o maior indulto jamais concedido a uma pessoa,).A segunda instância já demonstrou no caso Vacari,que não vai aceitar provas faladas de delações,o que é justo,sob pena de todos nós estarmos sujeitos a prisão por calúnias de desafetos.Coisas de regimes extremistas como foi o nazismo e stalinismo.

    • Nelson Rocha
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      É verdade Marcos. Devemos sobretudo garantir a Constituição Federal, pois quem viveu em regimes de exceção sabe exatamente o que é não ter garantias de direitos.

      Forte Abraço

  • Manoel Goncalves
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    Perfeito!!! A não está a deriva…

    • Nelson Rocha
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      Valeu Manoel !!!

      Precisamos ajudar a buscar o rumo certo com o voto nas urnas. Vamos ajustando, mesmo que seja aos poucos, até colocarmos no bom caminho.

      Forte Abraço

  • Deolinda
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    Vivemos no Titanic em pleno naufrágio, um afunda o outro para boiar na lama. Como ser professor em um país sem perspectiva de uma política de construção? Como mostrar que o conhecimento abrirá oportunidades, se a marginalidade está no poder tirando tudo dos menos favorecidos? Como dizer ao adolescente que se orgulhe de ser brasileiro??? Hoje, minha tristeza transborda em minha oratória na sala, meu entusiasmo cede lugar ao desânimo e decepção. Não sei mais suscitar o interesse por debates e discussões sociais, políticas e culturais.
    Estou à deriva!

    • Nelson Rocha
      Responder

      Querida Deolinda

      Você é uma das resistências ao marasmo educacional que se instalou. A sua busca pela excelência na educação pública é fonte de inspiração para a formação de jovens valores que serão forjados a partir da essência que você transmite.

      Fique com o meu carinho e o meu estímulo para continuarmos lutando por um país mais justo socialmente.

      Beijos

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