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Não é a primeira vez na história do Brasil que vivenciamos manifestações reivindicando intervenção militar e em todas as vezes anteriores nos arrependemos depois. Isso ocorre, eventualmente, por causa da fragilidade dos poderes constituídos, principalmente Executivo e Legislativo, que não conseguem mais traduzir os anseios do povo e passam a ser questionados, menosprezados e até ignorados pelos cidadãos.

Somos uma jovem democracia, alternada por vários períodos arbitrários, quando a soberania popular deixava de ser preservada, desrespeitando o princípio básico de ter as decisões por meio da maioria representativa.

Quem hoje deseja uma intervenção militar não viveu ou não se lembra dos tempos de regime fechado, onde o temor imperava, as vozes se calavam e os direitos eram suprimidos. Se naquela época já era difícil enfrentar tudo isso, imagine conviver com a falta de liberdade nos dias de hoje, com toda essa tecnologia que nos mantém conectados o tempo todo.

Muitas pessoas dizem que na época dos militares não havia corrupção como argumento para o retorno àqueles tempos sombrios. Mas isso é uma falácia! A corrupção também existia naquela época, pois ela é cultural. O que precisamos é educar as novas gerações com o espírito de não aceitar o jeitinho, de não tentar obter vantagens indevidas como vemos diariamente nos noticiários.

É preciso recordar também que muitas pessoas morreram ou foram perseguidas para que pudéssemos ter, hoje, a liberdade de expressão e o respeito à Constituição. O papel das Forças Armadas é o de garantir a defesa da Pátria e dos poderes constitucionais e não ser o representante do povo. Para prender corruptos, bandidos, ladrões e fazer cumprir a lei, já temos as instituições constituídas, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário.

Por isso, foi totalmente despropositada a fala do general do Exército da ativa, Antonio Hamilton Martins Mourão, ao intimidar o povo brasileiro com uma violação à ordem constitucional, desrespeitando a Constituição. Levantar a possibilidade de intervenção militar é uma ideia que deve ser rechaçada não só pelas próprias Forças Armadas, como também pela sociedade.

Os militares brasileiros devem ser respeitados como qualquer cidadão. Eles contribuem para termos uma democracia consolidada, por isso, não devemos nos dispersar tentando resgatar momentos difíceis na nossa história.

A jovem democracia brasileira está aprendendo com os seus próprios erros e, aos poucos, vamos ajustando o processo, evoluindo e melhorando a qualidade da soberania popular . Gostaríamos que fosse mais rápido, mas não é. As mudanças são lentas e o caminho é por vezes espinhoso como o que enfrentamos agora.

Intervenção militar não é a solução, é trazer de volta o fantasma do medo, da falta de liberdade, e das garantias individuais, de outro tipo de violência. É um retrocesso! Não devemos permitir que as manifestações de insatisfação com o que está acontecendo na política se transformem em exaltação a regimes totalitários. O país quer sair da situação em que está, não entrar em um beco que pode ser sem saída.

Como disse Winston Churchill – estadista britânico – “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”. Precisamos ter isso em mente e não nos deixarmos levar por pensamentos de uma volta a um passado que não foi feliz, que tirou a vida de muitos brasileiros e que deve ficar onde está, na memória de alguns e nos livros de história.

Showing 6 comments
  • Francisco de Assis Moura
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    Muito oportuno. Esse alerta é necessário. Tem a importância de se estender do específico para o geral, isto eh, de se aplicar a todos os tipos autoritarismo. Parabéns!

    • Nelson Rocha
      Responder

      Obrigado, Moura !!!

      Exatamente todo tipo de autoritarismo deve ser rechaçado.

      Forte Abraço

  • Arnaldo Maçaira
    Responder

    Tudo muito bem colocado! Parabéns!

  • Wellington
    Responder

    Concordo plenamente, as manifestações favoráveis a uma intervenção militar, por si só é antidemocrática. Estas pessoas deviam olhar as ditaduras em evidência hoje(Siria, Venezuela, Coreia do Norte, China, etc).
    Em 1964, também havia o anseio de parte da população em apoiar uma intervenção e uma convocação a eleições gerais logo em seguida. Resultou numa ditadura de duas décadas.
    Talvez devamos olhar para um outro regime de governo, a monarquia parlamentarista. Nele existe o poder moderador.

    • Nelson Rocha
      Responder

      Wellington,

      O debate pela sociedade é importante para o fortalecimento e consolidação da democracia brasileira.

      Forte Abraço

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