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Recebi de um amigo o texto de um artigo do jurista Ives Gandra Martins, publicado há cerca de quatro anos, que reaparece nas discussões acaloradas de redes sociais e grupos de WhatsApp, em face da abordagem que se associa pelo tema à recente divulgação do vídeo do jornalista William Waack.

Diz Ives Gandra: ‘Não sou nem negro, nem homossexual, nem índio, nem assaltante, nem guerrilheiro, nem invasor de terras. Como faço para viver no Brasil nos dias atuais?Na verdade, eu sou branco, honesto, professor, advogado, contribuinte, eleitor, hétero… E tudo isso para quê?”

Na semana anterior, o jornalista William Waack em vídeo divulgado agora, mas gravado por alguém da produção, há cerca de um ano, antes de uma entrada ao vivo, fez a seguinte declaração: “Sabe quem é, né? Preto, né!? Isso é coisa de preto, com certeza”. A Rede Globo imediatamente afastou o jornalista e emitiu nota em que declara: “A Globo é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações. Nenhuma circunstância pode servir de atenuante (…)Waack, contrariado, faz comentários, ao que tudo indica, de cunho racista(…)”. Ao que tudo indica?

Como Ives Gandra, sou branco, heterossexual, de origem europeia, e tive a sorte de ter uma boa educação pública que me permitisse conquistar um lugar ao sol, coisa que a maioria do povo negro, índio, nordestino não teve, não recebo nenhum benefício de governo, e nem por isso me sinto incomodado para viver no Brasil.

Os guerrilheiros a que ele se refere lutaram num momento difícil da vida brasileira e muitos morreram para resgatar a democracia sob a qual a liberdade de expressão de hoje lhe permite emitir opinião.

Por que ultimamente a intolerância tem mostrado a sua cara com maior fervor? A humanidade, à medida que evolui, deveria inversamente reduzir a intransigência, o sectarismo, o preconceito, mas não é o que temos visto nos últimos tempos.

Não conseguimos fazer aflorar nos corações das pessoas compreensão para entender as diferenças e perceber que as políticas voltadas para as minorias ou maiorias, dependendo do grupo, na verdade, são voltadas para as pessoas desprotegidas socialmente, existem porque esses mesmos grupos foram excluídos ao longo da nossa história.

Quando se segrega desde o berçário, por questões de raça, de origem, de classe social, estabelecem-se desde logo obrigações futuras de toda a sociedade, porque lhes será negado o direito às oportunidades iguais. Segundo pesquisa do Instituto Ethos em 2016, pessoas negras só ocupam 6,3% dos cargos de gerente e 4,7% dos executivos nas empresas. As oportunidades foram as mesmas?

As políticas sociais de compensação surgem por conta disso, não têm como objetivo privilegiar um determinado grupo, mas tentar minimizar as perdas que esse ou aquele mesmo grupo tiveram, não se trata de compensação pecuniária, mas de políticas públicas capazes, ao longo do tempo, de estabelecer oportunidades iguais para todos.

Como constitucionalista, o advogado Ives Gandra deveria ter abordado também em seu artigo o capítulo da nossa Carta Magna que trata da Assistência Social, que dispõe que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, regulamentada com a LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social em 1993. Como professor, deveria dar exemplo e não se posicionar dessa forma, a meu juízo, absurdamente irresponsável.

Ao invés de sectarismo, precisamos de mais tolerância às pessoas com maior necessidade, a fim de desfrutarmos harmonia e igualdade.

Showing 6 comments
  • Richard Faulhaber
    Responder

    Assino embaixo !!
    Por um Brasil e um mundo com muito mais fraternidade !!! com oportunidades equivalentes para todos !!!

    • Nelson Rocha
      Responder

      Obrigado, Richard !!!

      Que a humanidade tenha esse espírito.

      Forte Abraço!

  • Antonio Carlos Pinto
    Responder

    Excelente artigo. É uma pena que, pela índole do povo brasileiro, sempre oprimido pelas classes dominantes, este pensamento não terá a penetração que tanto almejamos. Parabéns Nelson.

    • Nelson Rocha
      Responder

      Obrigado Pinto !!

      Vc tem razão, mas temos que lutar para que as pessoas se conscientizem.

      Forte Abraço!

  • Maria Elisa
    Responder

    Estamos vivendo dias de muita intolerância, agressividade, falta de respeito e cerimônia… Enfim, a impressão que tenho é que estamos todos na defensiva e muito pouco humildes. A ansiedade não nos deixa ter paz… Que pena, somos um povo com tantas boas características … Pessoas como você são raras, fica a nossa eterna gratidão

    • Nelson Rocha
      Responder

      Obrigado, Maria Elisa !!!

      Realmente, que pena não aproveitarmos melhor as nossas virtudes, mas continuamos na busca de mais tolerância e monos intransigência.

      Beijos

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